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Carvalha

from Castanha I by Luís Antero

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Carvalha

Na Carvalha, a mancha de castanheiros é de uma dimensão assinalável. Só no Soito da Josefina, por exemplo, e área circundante, contámos mais de duas centenas de castanheiros. Lá estando, na companhia do prestável Aníbal Fernandes, proprietário daquelas árvores que parecem comunicar connosco, todo um novo mundo se abre diante dos nossos olhos... Ouvimos o som dos ouriços a cair naturalmente e escutamos o saber popular do senhor Aníbal, enquanto apanha vários magustos de castanhas. Deste saber popular, descobrimos, por exemplo, três espécies diferentes de castanha: Espinhal, Catrinana e Portelã. No livro "Memórias da Maria Castanha", de Jorge Lage, são identificadas mais de duas centenas de espécies diferentes de castanha em solo português mas, curiosamente, a espécie Catrinana não aparece assinalada. Porventura, tratar-se-á de uma adulteração toponómica desta espécie...
Maria Olimpia, habitante da Carvalha, com oito décadas de vida, relatou-nos episódios muito interessantes relativos ao universo castanícola daquela localidade. Nos idos da década de cinquenta do século XX, iam as mulheres da Carvalha a Loriga, a pé pela serra, vender castanha ou trocá-la por outros haveres necessários. Convém lembrar que Loriga, nesse tempo, era um importante centro de negócios, uma vez que possuía, já nessa altura, uma base industrial de grande importância.
Para Loriga não iam os homens da Carvalha, somente as mulheres. Eram elas as guardiãs da castanha. Assim era que, enquanto jovens, ajudavam os pais (ou o pai, principalmente) na recolha diária e matutina da castanha. Depois, já em casa, eram colocadas no caniço – castanhas caniçadas – onde permaneciam recebendo o calor emanado na fogueira para, mais tarde, já secas, se colocarem no “barreleiro” (ou cesto de pisar castanhas ou canastrão) onde Albano Sazeiro, o único que naquela altura entendia da nobre arte de pisar as castanhas, aos serões, “passava horas e horas a pisar castanhas”, enquanto as jovens mulheres dividiam as várias espécies de castanhas para os seus respectivos fins: “as mais branquinhas”, de nome “piladas”, para a alimentação familiar, as outras, secas, para venda. Estas castanhas piladas eram depois guardadas em sacos para o seu uso na culinária, principalmente na chamada Sopa de Castanha. As Castanhas Aveladas (também conhecidas por “más”), por exemplo, serviam para se irem comendo no dia-a-dia, para consolo da família, como nos relatou Maria Olimpia.
Por altura do Dia de Todos os Santos era habitual na Carvalha a realização de magustos, com a ajuda preciosa da caruma que, tal como hoje, servia para assar o “fruto dos frutos”. Ainda diariamente, era usual haver um assador de castanhas em casa ou uma panela com castanhas cosidas, para alimento familiar, muitas vezes como principal manjar.
Naquele tempo, na Carvalha, as terras “desocupadas” que havia eram para a agricultura. Raramente havia quem tivesse um castanheiro ou mesmo uma árvore de fruto. Estes, em grandes quantidades e em soitos, pertenciam a José Lencastre Marques Correia.

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from Castanha I, released November 23, 2014

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Luís Antero Portugal

Paisagista sonoro. Desenvolve desde 2008 um trabalho de recolha e documentação do património acústico de várias zonas do território nacional, com base em gravações sonoras de campo...

Sound artist. Since 2008 he develops an ongoing project in collecting the immaterial sound heritage of various areas of Portugal, through field recordings...
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