A importância da Bobadela no período romano está bem documentada e não será necessário aqui fazermos esse exercício.
A história da Bobadela, um dos temas propostas para a edição de 2017 das Jornadas Europeias do Património, está vertida no magnifico Fórum Romano da aldeia, incluindo-se um anfiteatro e um arco romano de características únicas em Portugal.
Mas esta história está também vertida nas ruas de geometria variável da aldeia, na sua arqueologia abundante e, acima de tudo, nas pessoas que habitam esta terra, guardiões e portadores da importância da Bobadela, intra e além fronteiras. E são estas pessoas o objecto principal do trabalho que aqui se apresenta, no âmbito das Jornadas Europeias do Património, que este ano teve como tema “Pessoas, Lugares, História”, ancorado num outro tema mais lato, o “Património de Natureza”.
Assim, este trabalho sonoro (e fotográfico), através dos depoimentos de alguns dos habitantes da aldeia, funciona como homenagem a este povo, um povo antigo, de características várias, que soube preservar o legado romano, valorizando-o.
Mas é também um povo com uma 'memória de ferro', que com gosto fala do tempo passado, mesmo que esse tempo fosse, para a maioria, “difícil, muito difícil”, em que o trabalho agrícola ditava 'os dias, as horas e os momentos', muitos deles passados com fome, depois de um dia de jorna de 'sol a sol', como era apanágio nas décadas anteriores ao 25 de abril de 1974.
Contudo, este tempo difícil não esmorecia um povo em muitos casos culto, havendo também a oportunidade para se gastarem as 'horas santas', geralmente ao domingo, em bailes improvisados ao som da 'gaita de beiços' nos vários largos da aldeia ou no popular café do João São Martinho. O jogo das cartas era igualmente muito popular junto dos frequentadores do café.
Um outro aspecto de relevante importância foi a ida dos jovens tropas bobadelenses para a guerra ultramarina, acontecimento ainda hoje celebrado em almoços convívio com os antigos camaradas e suas famílias.
Mas o melhor é escutar as peças sonoras aqui expostas, onde estes e outros temas são revelados...
Resgata-se desta forma à memória temas de interesse colectivo, perpetuando-se um passado longínquo, mas não esquecido, feito de sentimentos vários.
Este trabalho teve por base gravações sonoras a vários habitantes da aldeia de Bobadela, nos formatos aural e binaural, e fotografias aos mesmos, deixando aqui um agradecimento público especial a: Nazaré Godinho, Maria Marques, Natércia Marques, Maria Helena Pegado, Lurdes Marques, Maria Angelina Cabral, Eugénia Pestana, Leonilde Dias, Maria Madalena Cardoso, Francisco Correia, José Monteiro, Luís Mota, João São Martinho, Maria de Deus e Vasco Brantuas.

Nota: o trabalho sonoro que aqui se apresenta serviu como instalação sonora no Museu Municipal Dr. António Simões Saraiva, na Bobadela, Oliveira do Hospital, no âmbito da edição de 2017 das Jornadas Europeias do Património. As fotografias e restante documentação estão alojadas na plataforma web 'Cultura OHP' e teve a seguinte ficha técnica:
Conceção: Luís Antero (CMOH - Gabinete de Apoio à Vereação) Coordenação: Prof. Graça Silva (Vereadora do Pelouro da Cultura) Grafismo: Bruno Fonseca (CMOH)
Produção: Município de Oliveira do Hospital